CICADA 3301 (Parte 02)

Os meses foram passando, e no dia 5 de janeiro de 2013, exatamente um ano após a fatídica convocação, surgiu outra bem parecida, também no 4chan. Os nerds entraram em polvorosa: a Cicada estava de volta.

A segunda caça ao tesouro

Seguiu-se outra “caça ao tesouro”, bem mais complicada que a primeira. Ela envolveu um livro do ocultista Aleister Crowley (clique aqui para ler sobre ele), um “boot cd” de um sistema operacional próprio da Cicada, uma música, um twitter que postava números misteriosos, um código cabalístico de runas (ver abaixo), uma porrada de sites da Darknet, mensagens compostas exclusivamente de espaços e tabulações que tinham que ser convertidas em binário, mais mensagens em postes em vários lugares do mundo (Japão, Rússia, Texas, entre outros), etc. Até chegar ao teste final. Sério, é coisa pra caramba, muito mais sinistro que a primeira vez – quem tiver curiosidade pode ler aqui.

Dessa vez, o teste final (novamente, informação que não pode ser confirmada e depende apenas da palavra de quem diz ter chegado até lá) foi bem diferente do primeiro, e talvez dê pistas sobre as ideias que pautam o Cicada 3301. Tratava-se de um questionário (ver imagens abaixo) versando sobre temas altamente filosóficos, com questões de “verdadeiro ou falso” do tipo “não existe verdade”, “a observação muda a coisa sendo observada” e “eu sou a voz dentro de minha cabeça”, e outras dissertativas como “a operação matemática conhecida como adição é modelada em quê?” e “aponte semelhanças entre o conceito de realidade e a news feed do Facebook”. Logo em seguida, houve (supostamente) outro teste de programação; novamente, o que veio depois disso é desconhecido, pois as pessoas que passaram em todos os testes sumiram completamente da internet.




São 9 os questionários, para ver todos clique aqui

A Terceira edição da Caçada

Como era de se esperar, em 5 de janeiro de 2014, a Cicada voltou à ativa. Aliás, tanto esperavam por isso que choveram trolls postando mensagens falsas, que logo foram desconsideradas, por não ter a assinatura digital do 3301, entre outras características. Já estavam quase desistindo quando, lá pelas 11 da noite, o twitter usado pelo misterioso grupo no desafio anterior postou um novo convite, semelhante aos anteriores, mas com um tom mais místico:

"Olá.

A epifania está próxima de você. Sua peregrinação começou. A iluminação está à espera.

Boa sorte.

3301"

Conforme a “gincana” desse ano foi progredindo, a temática mística tem se mostrado cada vez mais presente. Seguindo a tendência, o desafio desse ano é ainda mais cabuloso que o do ano anterior, e apesar de haver bem mais gente empenhada em resolvê-lo, até a data dessa publicação o pessoal tava completamente empacado há mais de uma semana. A coisa começou com mais um código de livro, dessa vez baseado em um livro de Ralph Waldo Emerson sobre auto-suficiência e transcendência, a qual levou à seguinte imagem pra lá de estranha:

Isso é uma colagem de três quadros do artista e poeta inglês William Blake, de cerca de 1795: Nabucodonosor, Newton e O Ancião dos Dias, mas com duas modificações bem significativas: uma cigarra (a mesma que apareceu várias vezes nos outros desafios), bem escura e quase invisível na parte preta do lado de baixo, e alguma coisa escrita na linha onde o dedo está apontando bem no meio da imagem. Até hoje, ninguém foi capaz de decifrar o que está escrito ali, pois é alguma coisa minúscula, distorcida pela compressão da imagem, e cortada pela linha. Muito se especulou sobre o significado da imagem. Apontaram semelhanças entre ela e o Hexagrama Unicursal, símbolo da Thelema, tradição mágica de Aleister Crowley, conectando-se portanto com o desafio de 2013; outros enxergaram o símbolo da Maçonaria, o que é reforçado pelo uso de compassos, sugerindo que esta ordem esteja por trás do 3301. No código-fonte da página onde a imagem foi encontrada, havia a frase “Pois tudo o que vive é sagrado”, ressaltando mais ainda o misticismo da figura.


Sem entender direito o que a imagem significam, o pessoal seguiu a trilha da esteganografia, a qual (novamente através de vários sites na Darknet, além de puzzles de criptografia, mais runas cabalísticas, e diversas páginas que mostravam códigos crescendo pouco a pouco e desaparecendo logo após se completar) foi eventualmente revelando algumas páginas de um estranho livro, intitulado Liber Primus e escrito em runas. Traduzido, o livro, dirigindo-se ao leitor como “peregrino”, fala em uma “jornada para o fim de todas as coisas”, através da qual você encontrará um fim para o sofrimento, a inocência, as ilusões, as certezas, a realidade, e até o fim de si próprio. “Você é um ser por si só”, diz o livro; “Você é uma lei por si só. Cada inteligência é sagrada. Pois tudo o que vive é sagrado.” Diz também que os números primos (essenciais para a criptografia) são sagrados, e tudo deve ser criptografado. A última página revelada até o momento fecha com um “quadrado mágico”, cheio de números cuja soma de todas as linhas, colunas e diagonais dá 1033 (3301 ao contrário, claro).


Em 29 de janeiro, após mais de duas semanas sem novidades, o último site encontrado até então, que estava offline, voltou à atividade com um arquivo zipado (em formato de texto contendo código hexadecimal, como o 3301 costuma fazer), do qual podiam ser extraídos as seguintes imagens:




Logo traduziram as páginas, levando a uma história que eu particularmente achei bastante interessante:

Um Koan

Um homem decidiu ir estudar com um mestre. Ele dirigiu-se à porta deste mestre. “Quem é você, que pretende estudar aqui?” perguntou o mestre. O estudante disse ao mestre seu nome. “Isso não é quem você é, apenas como você é chamado. Quem é você, que pretende estudar aqui?” ele perguntou novamente. O homem pensou por um momento, e respondeu: “Eu sou um professor.” “Isso é o que você faz, não quem você é”, replicou o mestre. “Quem é você, que pretende estudar aqui?” Confuso, o homem pensou um pouco mais. Finalmente, ele respondeu: “Eu sou um ser humano.” “Isso é somente sua espécie, não quem você é. Quem é você, que pretende estudar aqui?” perguntou o mestre de novo. Após um momento de reflexão, o professor respondeu: “Eu sou uma consciência habitando um corpo arbitrário.” “Isso é meramente O QUE você é, não QUEM você é. Quem é você, que pretende estudar aqui?” O homem estava ficando irritado. “Eu sou…” ele começou a dizer, mas não conseguia pensar em mais nada para falar, então se dispersou. Após uma longa pausa, o mestre respondeu “Então você é bem-vindo aos estudos.”

Após a imagem da cigarra: Uma instrução: faça quatro coisas despropositadas a cada dia.

Usando esteganografia nas imagens, extraíram a mensagem “Acreditar na verdade é destruir as possibilidades” e um endereço, que continha um monte de informação binária e a seguinte imagem, cujo espaço escuro foi tratado logo em seguida para mostrar outras imagens imperceptíveis a olho nu:



O homem escondido no canto é Grigori Rasputin (clique aqui para saber mais sobre ele). O significado disso, e dos números, ainda não foi descoberto.

Paralelamente, foi decodificada a informação binária, que correspondia a um trecho de música clássica e duas imagens:


A equação faz parte do Teorema da Incompletude de Gödel, o olho é uma pintura de M. C. Escher, e a música é um trecho da Trio Sonata em Sol Maior (BWV 1039), de J. S. Bach. Não é difícil deduzir que isso se conecta com um livro chamado Gödel, Escher, Bach, de Douglas Hofstadter, que era a chave para um código de livro contido também nos dados binários. O endereço conseguido a partir dessa pista levou a mais quatro páginas do “livro” que estava sendo pouco a pouco divulgado pela Cicada:





Tradução:
A perda de divindade: A circunferência pratica três comportamentos que causam a perda de divindade.

Consumo: Nós consumimos demais porque nós acreditamos nos seguintes dois erros dentro do engodo:

1. Nós não temos o suficiente, ou não existe o suficiente;
2. Nós temos o que temos agora por sorte, e não seremos fortes o bastante mais tarde para obtermos o que precisamos.

A maioria das coisas não são dignas de consumo.

Preservação: Nós preservamos as coisas porque acreditamos que somos fracos. Se as perdermos, não seremos fortes o bastante para ganhá-las novamente. Este é o engodo.

A maioria das coisas não são dignas de preservação.

Aderência: Nós seguimos o dogma para que possamos pertencer ao grupo e estar certos. Ou, nós seguimos a razão para que possamos pertencer ao grupo e estar certos.

Não há nada sobre o que estar certo. Pertencer ao grupo é a morte.

São os comportamentos de consumo, preservação e aderência que nos fazem perder nossa primalidade e, portanto, nossa divindade.

Alguma sabedoria: Junte grandes riquezas. Nunca fique apegado ao que você possui. Esteja preparado para destruir tudo o que você possui.

Uma instrução: Programe sua mente. Programe a realidade.

Ocultas nas imagens estava um conjunto de instruções para algo que parece ser um teste final, semelhante aos anos anteriores, que envolvia a criação de “quadrados mágicos” (cuja soma de todas as linhas ou colunas é a mesma), bem como a criação de um serviço online na Darknet que permitisse a comunicação. Ao fornecer as informações solicitadas, o usuário era direcionado a uma página com um agradecimento, e as seguintes imagens:




Tradução:
Um koan: Durante uma lição, o mestre explicou o eu: “O eu é a voz da circunferência,” ele disse. Ao ser questionado por um estudante sobre o que isso queria dizer, o mestre disse: “É uma voz dentro da sua cabeça.” “Eu não tenho uma voz dentro da minha cabeça,” pensou o estudante, e ele ergueu a mão para falar ao mestre. O mestre interrompeu o estudante e disse: “A voz que acabou de dizer que você não tem uma voz em sua cabeça, isso é o eu.” E os estudantes foram iluminados.

Uma instrução: Questione todas as coisas; Descubra a verdade dentro de você; Siga a sua verdade; Não imponha nada aos outros.

Saiba disto: (sequência de números)

E, por enquanto, é só. Tudo leva a crer que a etapa final levou a um contato direto com a 3301, assim como nos anos anteriores; seja como for, se alguém conseguiu passar para esse estágio, ninguém mandou notícias até o momento. Ainda há um monte de mistérios e pistas não explicadas na gincana deste ano (qual é a dos quadrados mágicos? E o Rasputin com aqueles números?), mas não parece que vamos ter respostas para essas coisas tão cedo.

Esses últimos passos têm deixado bem claro o lado filosófico e ideológico da organização. O Liber Primus, nome dado ao livro que surgiu ao longo deste desafio, tem um conteúdo bastante místico, remetendo tanto ao zen-budismo quanto à ideia de questionar tudo e buscar sua própria verdade. Isso tudo só aumentou ainda mais a minha curiosidade, e (para mim) é mais uma pista de que há algo de mais profundo por trás deste mistério. Um simples desocupado, ou alguém com interesses comerciais, não se preocuparia com essa filosofia toda. Agora, só resta aguardar pra ver o que vai ser revelado em 2015…

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